Embora a arbitragem implique conhecimento técnico, ser um árbitro eficaz é definitivamente uma arte. E a arte evidenciada por um árbitro no palco da competição depende, em grande medida, das suas qualidades pessoais. Ora como é dificil definir em consenso quais as qualidades de um bom árbitro, uma vez que se propuserem a 20 peritos em arbitragem uma lista de qualidades, provavelmente encontrarão 20 listas diferentes o que por si só demonstra a dificuldade de classificar um bom árbitro. Mas para mim, e sem ser leigo na matéria, um bom árbitro deverá ter as seguintes qualidades:
- Consistência - Os jogadores e treinadores esperam que os árbitros sejam consistentes: as suas decisões devem ser as mesmas face a circunstâncias idênticas ou similares, devendo aplicar as regras igualmente a ambos os oponentes. A inconsistência na arbitragem é frequentemente criticada por – e perturbadora para – treinadores e jogadores. Os próprios árbitros reconhecem a importância da consistência no seu trabalho.
- Comunicação - Os árbitros devem tentar estabelecer uma boa comunicação tanto com treinadores como com jogadores. Enquanto árbitro, este não deve estar a tentar vencer um concurso de popularidade, mas também não deve estar à procura de inimigos. A chave para estabelecer uma boa comunicação é a eficácia, ou seja, comunicar eficazmente com desportistas e treinadores e o mais provável é que eles cooperem e questionem menos vezes as decisões. Os árbitros podem também melhorar a comunicação tratando os jogadores e treinadores com cortesia e respeito. Devendo esperar o mesmo tratamento por parte de treinadores e desportistas. Embora o árbitro deva ser amigável ao arbitrar, deve também manter a distância apropriada dos competidores para dissipar qualquer dúvida em relação à neutralidade da sua posição. Estar acessível e disposto a ouvir as questões dos queixosos, mas não permitir aos participantes interromper o decurso do jogo com questionamento contínuo, evitando-se assim debates longos que prejudiquem o desenrolar do jogo.
- Capacidade de decisão - As decisões de um árbitro devem ocorrer simultaneamente à acção observada, ou o mais rapidamente possível. Isto não significa que o árbitro deva tomar todas as decisões sem hesitar. O árbitro pode precisar de fazer uma pequena pausa para compreender o que acabou de ver. Mas uma pausa demasiado longa dá aos desportistas e treinadores a impressão de incerteza, sendo maior a probabilidade de questionarem uma decisão demorada.
Decisões de julgamento não são alvo de protesto formal, assim, o árbitro pode evitar controvérsias tomado decisões rápidas e determinadas. Quanto mais duvidosa é a decisão, mais importante se torna a determinação com que a mesma é tomada, sendo imperativo uma acção decidida e clara. Deste modo, ao tomar este tipo de decisão, um árbitro deve dar a impressão de estar absolutamente certo do que viu.
- Equilíbrio - A competição desportiva é geralmente excitante e a acção é frequentemente veloz, mudando rapidamente, e é frequente as emoções de desportistas, espectadores e treinadores encontrarem-se elevadas.
Um árbitro deve manter-se calmo e equilibrado, independentemente do que está a acontecer. Embora o árbitro não possa controlar as emoções dos outros, espera-se que seja capaz de controlar as suas emoções independentemente das circunstâncias. Os árbitros devem manter o auto-controlo durante todo o tempo, especialmente durante os momentos de alta tensão, quando brigas, lesões, faltas e reacções violentas tem maior probabilidade de ocorrer. Um árbitro que se mantêm equilibrado e controlado, enquanto demonstra autoridade e liderança, evita que tais situações críticas resultem em incidentes desagradáveis. Durante os momentos de tensão os seus gestos e movimentos devem ser, sempre que possível, deliberados. Uma certa dose de excitação é normal quando se arbitra, mas é importante manter as emoções e acções sobre controlo, nunca lhes permitindo que coloquem em risco a sua eficácia enquanto árbitro.
- Integridade - A integridade decorre de arbitrar um jogo de forma imparcial e honesta, independentemente das reacções de jogadores, treinadores e espectadores; do tempo que resta; do resultado; de decisões anteriores; ou de outras fontes potenciais de influência. A melhor salvaguarda para manter a integridade está exposta na expressão, "Apita conforme vês".
É extremamente importante proteger a integridade tanto dentro como fora do terreno de jogo. Embora esteja consciente das suas responsabilidades enquanto árbitro, o mesmo deve estar igualmente preocupado em manter o respeito dos outros pela sua integridade fora do campo. Isto implica nunca expressar a sua opinião sobre jogadores e equipas que possa vir a arbitrar no futuro e nunca apostar, independentemente da importância da aposta, no resultado de qualquer jogo que possa arbitrar. Finalmente, o árbitro revela a sua integridade pessoal pelos compromissos que rejeita. Nunca deverá arbitrar um jogo que possa comprometer os seus valores, tais como quando um familiar ou amigo próximo está envolvido quer como treinador ou jogador.
- Capacidade de Julgamento - O bom julgamento começa com a exaustiva e completa compreensão das regras e regulamentos que regem uma modalidade. Uma vez estabelecido, o conhecimento das regras serve de guia para determinar a legalidade do jogo. Então, o correcto julgamento adquirido através da experiência permitir-á ao árbitro enfrentar as exigências de uma variedade de situações. O árbitro que continua a estudar as regras e analisa a experiência com o objectivo de melhorar provavelmente tornar-se-á competente. É também importante o árbitro arbitrar repetidamente para desenvolver a sua capacidade de julgamento, tal como um desportista deve praticar técnicas para desenvolver as capacidades físicas requeridas.
Os árbitros confiantes mantêm o controlo face a situações adversas, o que não quer dizer que não experimentam sentimentos de insegurança mas não perdem a confiança neles próprios só porque tomaram uma decisão errada ou experimentaram outros contratempos. Todos os árbitros têm jogos que prefeririam esquecer, mas os árbitros confiantes não deixam que os mesmos afectem a sua confiança. Os árbitros não devem estar preocupados com os acontecimentos que não podem controlar, pois se um árbitro vai para um encontro com a expectativa de um fraco desempenho e sem acreditar nele próprio é melhor preparar-se para um longo jogo.
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